Primeiro passeio na neve

As temperaturas desceram muito e no sábado caiu neve pela primeira vez neste outono com cheiro a inverno. Logo de manhã fomos ao mercado fazer compras e o David foi connosco. Estava muito frio, a temperatura andava por volta dos 0º e eu fiquei gelada. O David lá foi na sua alcofa dentro de uma saco para o frio, muito tapado com mantinhas para se manter quente e um plástico para evitar que a neve caísse por cima dele. Acabou por dormir o tempo todo e parecia estar muito satisfeito com os solavancos. Nada melhor que um passeio no carrinho para dormir.

Coisas que me fazem confusão

Não sei como são as coisas em Portugal mas por aqui há algumas recomendações com o cuidado do bebé que me fazem confusão:

- Recomendam que se dê banho ao bebé umas 2 ou 3 vezes por semana. Todos os dias nem pensar porque faz mal à pele.

- O uso de cremes hidratantes é opcional e para esta gente serve só para cheirarem bem. No rosto não se aplica nenhum creme.

- As primeiras vacinas são dadas aos 2 meses, se os pais autorizarem.

- A esterilização das coisas usadas pelo bebé deve ser feita uma vez por dia fervendo tudo em água durante 10 minutos. Não é recomendado o uso de esterilizador de microondas.

- Depois de utilizar um biberão, este deve ser passado por água fria e guardado no frigorífico para prevenir a propagação de bactérias.

- Recomendação da enfermeira: tome paracetamol ao deitar porque vai ajudá-la a descansar melhor. Nesta terra o paracetamol serve mesmo para tudo e acham que devo tomar mesmo sem dores, inflamações ou febre.

Algumas destas recomendações foram adaptadas de forma a fazerem mais sentido para nós. 

David, de kabouter

Os trintões que acompanham este blog devem lembrar-se do David, o gnomo. Eu gostava muito de ver essa série e tinha também a respectiva caderneta de cromos. A versão que dava em Portugal era em português mas tinha o genérico em espanhol e por isso para mim o David e o resto dos gnomos eram todos espanhóis. Fiquei a saber que afinal o David é holandês, os desenhos animados são inspirados nos livros de Rien Poortvliet e por cá o pessoal da minha idade lembra-se com saudade desta série.

Sinterklaas

Este sábado foi um dia de festa para as crianças holandesas, o Sinterklaas chegou à Holanda. O Sinterklaas é o nosso São Nicolau, e é ele quem trás os presentes para as crianças holandesas que se portam bem no dia 5 de Dezembro. O Sinterklaas vive em Espanha durante todo o ano e em meados de Novembro vem de barco com o seu cavalo branco e os seus ajudantes, os Pedros Pretos, até à Holanda. A sua chegada é uma grande festa com crianças aos gritos, muita música e distribuição de doces típicos que muitas vezes são apanhados do chão e consumidos pelos miúdos (ninguém se parece importar muito com isso). Até dia 5 de Dezembro são elaboradas as listas das crianças que se portaram bem e que vão ter direito a um presente e as que se portaram mal e vão ser levadas para Espanha dentro do saco do Pedro Preto. 

Esta é uma das tradições que primeiro se estranha e depois se entranha, é muito giro ver a festa que os miúdos fazem e a alegria com que vivem esta época. Este ano o David ainda é pequenino mas para o ano lá estará na festa de chegada do Sinterklaas. Até ver tem-se portado bem e não me parece que vá ser levado para Espanha,  até já teve direito a uma letra de chocolate, um dos presentes típicos desta época.

Sinterklaas

Zwart Piet (Pedro Preto)

2:17

Esta noite levantei-me para dar de mamar ao David, ele bebeu tudo direitinho, arrotou à homem como se tivesse bebido uma mini, bocejou e apagou completamente. Voltei a deitá-lo na caminha dele e verifiquei com alegria que iria poder dormir mais de 2 horas seguidas, mais precisamente duas horas e dezassete minutos. Finalmente, após 3 semanas, a barreira das 2 horas seria quebrada.

Se antes isto seria classificado apenas como uma sesta, neste momento é um sono reparador pelo qual estou muito agradecida.

O meu filho

40 semanas

Era hoje o dia previsto para o parto mas o David preferiu surpreender-nos e nascer 3 semanas antes. Mas que bela surpresa e que boas que foram estas últimas semanas. 

Os cinco no Dragão

Eu sou portista e o pai é benfiquista mas o David vai ser livre para escolher o clube de futebol dele, sem lavagens cerebrais por parte de ninguém. Por vezes a escolha parece-me tão fácil e evidente.

PS: Se não voltar a escrever é porque o marido me deu uma sova ao chegar a casa.

A doula

Ainda bem que optamos por ter uma doula connosco, a tranquilidade e paz que ela transmitiu durante todo o trabalho de parto foi muito importante. Eu e o Nelson sabíamos toda a teoria mas depois na prática as coisas são mais difíceis. 

Eu e a doula devíamos encontrar-nos ainda 2 vezes antes do parto para saber aquilo que eu queria, o que não queria, os meus medos os medos do Nelson. Como o David estava cheio de pressa não deu para nos encontramos mas mesmo assim resolvemos ligar-lhe quando as contracções começaram. Em casa ajudou-me com a respiração, a manter o controlo, explicou o que se estava a passar e o que iria acontecer, ajudou-me a mudar de posição, a andar, a deitar-me e descansar, ajudou o Nelson e explicou-lhe a melhor forma de me apoiar e deu-lhe o apoio que ele precisava.

No hospital esteve sempre connosco, falou com parteiras, médicos e enfermeiras Quando as contracções se tornaram demasiado fortes ajudou-me a respirar e tranquilizou o Nelson. Lembro-me bem da expressão dele enquanto eu lhe pedia ajuda, eu só queria que as dores terminassem mas sabia que ele nada podia fazer a não ser estar ao meu lado.

Fiquei deitada de lado para receber a epidural, virar-me foi das experiências mais dolorosas de todo o parto. A doula continuava a ajudar-me com a respiração mas nessa altura só via a minha mão na cara dela, era óbvio que eu não estava em condições de respirar tranquilamente e ela insistia naquilo. Ainda bem que insistiu. 

Durante a expulsão mais respiração, mais apoio, agora muito mais calma. Apenas a ansiedade de sabermos que estávamos a poucos minutos de conhecer o David. Quando o David nasceu deu-nos o nosso espaço, deixou-nos chorar, olhar para o nosso filho. O Nelson cortou o cordão e ficamos ali, com uma felicidade que não se consegue explicar.

Sorrio sempre que me lembro do parto e isso é o mais importante. 

Ainda tenho saudades

De toda a espécie de vinhos, cervejas, champanhes, espumantes, vinho do porto, licor e tudo o que contenha álcool.

Beber café como se fosse água.

Já tinha saudades

De sushi
De estar deitada de barriga para baixo
De comer fruta e saladas sem preocupações
De salmão fumado
De queijos creme
De conseguir calçar-me facilmente
De ter pés de tamanho proporcional ao resto do corpo

O parto - versão resumida

Quase 2 semanas após o parto consegui orientar-me e arranjar um tempinho para escrever outra vez. Não tem sido fácil, um bebé de 37 semanas requer cuidados extra e andamos muito cansados, cheios de sono mas muito felizes.

O parto do David foi rápido, no dia 21 pelas 6:00 acordei com uma sensação estranha, as águas tinham rebentado. Como as águas eram clarinhas decidimos esperar até às 8:00 para ligar às parteiras. Entretanto meia hora depois começam as primeiras contracções, primeiro a cada 7 minutos, depois a cada 5.

Ligamos para a parteira que veio aqui a casa pelas 9:00 e depois de me examinar viu que tinha uma dilatação de 1 ou 2 cms. Aconselhou-me a ficar em casa, tomar um duche quente, comer, descansar e ficou combinado voltaria às 12:00 para me observar novamente.

As contracções começaram a aumentar de intensidade até que pelas 11:00 já eram muito difíceis de suportar. Ligamos novamente à parteira que veio rapidamente e viu que estava já com 4 cms de dilatação. Perguntou-me se queria ir para o hospital e eu disse que sim. O hospital fica muito perto de casa, demoramos menos de 5 minutos a chegar lá, a parteira já estava à minha espera com a cadeira de rodas e levaram-me para um dos quartos. Falaram comigo sobre formas de aliviar as dores e prepararam-me um banho quente enquanto aguardava pela epidural ou outro tipo de anestesia. No início o banho foi muito bom e trouxe um alívio grande mas as contracções eram cada vez mais fortes e já não conseguia suportar mais as dores. Fui novamente examinada e tinha apenas 5 cms, a cabeça do bebé não estava na melhor posição e isso estava a provocar-me as dores tão fortes e uma vontade imensa de fazer força. Levaram-me rapidamente para outro andar para receber a epidural, a primeira tentativa falhou mas à segunda já correu melhor. Passados poucos minutos começou o alívio, finalmente podia ganhar forças para a fase de expulsão.

Fui examinada mais uma vez e estava já com a dilatação máxima, informaram-me que iriam retirar a epidural para sentir as contracções durante a expulsão. Tive medo que as dores voltassem mas a verdade é que senti apenas uma vontade enorme de fazer força e esta fase não doeu nada. Segui as instruções que me foram dadas a cada contracção e às 17:30 o David nasceu.

Apesar das dores, não consigo imaginar uma experiência melhor do que sentir o meu filho a nascer e recebe-lo nos meus braços. Ao meu lado tive sempre o meu marido que me apoiou durante o tempo todo e tratou de mim e do bebé. Este momento só fazia sentido com ele ao meu lado, eu ia tornar-me mãe e ele pai, a maior mudança nas nossas vidas.